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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Dias is That Damn Good #201 – "O Hardcore Wrestling Style"

Boas Pessoal!



Sejam bem vindos a mais um "Dias is That Damn Good", o espaço com mais história na nossa CWO ;)

O Hardcore Wrestling Style conheceu a sua maior explosão no início dos anos 90 do século passado, sob a égide da antiga ECW de Paul Heyman. Pela brutalidade e espectacularidade proporcionada pelo estilo e seus praticantes, rapidamente conseguiu reunir um sem número de seguidores e fãs, tendo-se tornado, inquestionavelmente, numa componente valiosa e altamente benéfica aos mais variados conteúdos da modalidade, pelo menos, sempre que utilizada de uma forma bem estruturada e lógica. Actualmente, continuam a ser bastantes, ainda, os fãs e seguidores de pro wrestling que reclamam uma maior aproximação a essa vertente tão bem sucedida e célebre no passado...tendo, ao que parece, as suas preces sido ouvidas pela administração da TNA que, como é possível verificar, tem orientado a sua produção e conteúdos num sentido que os aproxima, claramente, da saudosa (para alguns) ECW.

Neste sentido, porque acho que deve ser feita uma clarificação quanto à validade e utilidade deste estilo e porque acredito que esta situação pode proporcionar uma discussão e debate de ideias bastante interessante, aquilo que me proponho apresentar ao longo de presente texto será, precisamente, uma avaliação/reflexão acerca do Hardcore Wrestling Style.

Não percam, por isso, as próximas linhas...



O Hardcore Wrestling Style teve a sua origem, se assim podemos dizer, quando, no final dos anos 70 início dos anos 80, algumas promotoras (distribuídas pelo território norte-americano) começaram a introduzir uma série de gimmick matches (como os brawling matches e os street fight matches, entre outros), que ficariam conhecidos pela sua maior violência e brutalidade. Neste período e estilo, em particular, haviam de se celebrizar wrestlers como Freddie Blassie, Dory Funk Sr., Abdullah The Butcher, Jerry Lawler, Terry Funk, Eddie Gilbert e/ou Bill Dundee, entre outros. Contudo, o Hardcore Wrestling Style propriamente dito, como o conhecemos hoje, só viria a aparecer verdadeiramente no decorrer dos anos 90. Primeiro, sob influência de uma companhia japonesa denominada Frontier Martial-Arts Wrestling e, pouco tempo depois, através da ECW de Paul Heyman, promotora que levaria o estilo a um maior número de fãs e seguidores da modalidade e que o tornaria célebre. Mais anárquico e instável que qualquer outro estilo praticado até então, sem quaisquer regras, brutal e violento, espectacular...extreme seria, de facto, a expressão que melhor caracterizava este novo estilo – o Hardcore Wrestling Style.

A Extreme Championship Wrestling (ECW) de Paul Heyman que, como disse foi a promotora que mais disseminou e visibilidade deu ao estilo, contou nas suas fileiras com inúmeros praticantes de elevada qualidade como Chris Jericho, Chris Benoit, Eddie Guerrero, Raven, os Dudley Boys, Rob Van Damn, entre outros. Wrestlers que não só elevaram a qualidade do produto e dos conteúdos apresentados pela companhia, como permitiram credibilizar e divulgar ao mais alto nível o recém, mas já tão aclamado, hardcore wrestling style. Contudo, por se focar maioritariamente numa vertente/componente da modalidade em detrimento das restantes, a verdade é que a companhia nunca conseguiu atingir uma dimensão e patamar ao nível "main stream", tendo, por outro lado, assegurado um núcleo de fãs mais restrito, mas bastante fiel. Por esta razão, muitos dos seus melhores talentos e intérpretes haveriam de abandonar a empresa rumo à WWE e/ou à WCW, onde, de facto, poderiam estabelecer-se como grandes estrelas da indústria (o que, na realidade, se veio a verificar em muitos dos casos). Ainda neste sentido e por consequência, a promotora nunca conseguiu tornar-se estável do ponto de vista financeiro, pois os patrocínios e acordos comerciais e de televisão que necessitavam estavam, geralmente, vedados pelo conteúdo demasiado agressivo e brutal que apresentavam. E essa situação acabou por se reflectir, também, na própria qualidade da produção que, sem financiamento para os equipamentos de ponta, esteve sempre condicionada à criatividade e esforço daqueles que se desdobravam em diversas tarefas para conseguir gravar e promover os produtos oferecidos pela ECW. Com o encerramento da empresa de Paul Heyman, seria a WWE a aproveitar alguns dos seus talentos e a dar uso e continuidade ao seu estilo, embora de uma forma bastante mais cuidada e pontual. Mais recentemente, é a TNA quem parece estar a querer ressuscitar o hardcore wrestling style, utilizando-se, para tal, de muitos dos nomes que ficaram célebres na extinta ECW.



Ora depois de uma pequena visita à história do hardcore wrestling style, importa reflectir de forma crítica acerca do mesmo. E é neste ponto que começam as minhas discordâncias com aquilo que foi celebrizado pela ECW e com o que a TNA procura, agora, retomar. Desde a sua génese que o pro wrestling se encontra em constante evolução e, por isso, é natural que novas formas de entretenimento, novos conteúdos, novas formas de produção e novos estilos vão aparecendo e transformando-se em componentes/vertentes que tornam a própria modalidade em algo com um alcance mais vasto, mas também mais completo. Deste modo, devemos olhar para o hardcore wrestling style não como algo solto ou como um fim em si mesmo, mas sim como um item que completa e deve ser completado através de uma articulação com outros componentes. Ou seja, o hardcore wrestling style não deve ser a razão para algo, mas sim surgir em razão de algo. Na minha opinião, são as storylines, o storytelling e as rivalidades que devem estipular e/ou definir o tipo de combates que os wrestlers em confronto terão, por isso, os gimmick matches deverão surgir, tão só e apenas, em função do momento que as feuds estão a atravessar. Ora, neste sentido, o hardcore wrestling style (que só é produzido em gimmick matches) não pode aparecer à partida como parte integrante de qualquer angle, ele só pode e deve aparecer se a história e a própria rivalidade trilharem um caminho que justifique o seu aparecimento e utilização. Assim, e se olharmos para os conteúdos apresentados pela antiga ECW e para aqueles que a TNA produz actualmente, verificamos que essa situação para além de não ser compreendida, não está a ser respeitada o que, a meu ver, é um tremendo erro, uma vez que subverte os principais fundamentos do pro wrestling.

Por outro lado, e não sendo respeitados estes desígnios e princípios, são a própria qualidade e atractividade do hardcore wrestling style que saem altamente prejudicadas com toda esta situação. E saem prejudicadas, em primeiro lugar, porque deixa de haver uma verdadeira história para contar durante o combate e a psicologia de ringue é completamente negligenciada. Em segundo lugar, porque a banalização do estilo vai-lhe retirando aos poucos o impacto e espectacularidade que o torna tão atractivo. Em terceiro lugar, porque o hardcore wrestling style tende a diluir as características diferenciadoras de cada wrestler. Em quarto lugar, porque a utilização abusiva deste estilo não ajuda a educar as plateias e também não lhes desperta o interesse para os pontos fulcrais do combate, estando os fãs mais focados nos spots que se vão sucedendo uns após os outros. Em quinto lugar, porque quando uma empresa foca o seu produto maioritariamente ou quase exclusivamente neste estilo as coisas tornam-se demasiado repetitivas e perde-se capacidade para diferenciar os múltiplos combates e wrestlers. Em sexto lugar, porque a diferença de tratamento que é dada aos restantes estilos e componentes da modalidade, não permitem alargar o número de fãs e seguidores, ficando as companhias reféns de pequenos núcleos quase fanáticos de adeptos, etc. Portanto, todo um conjunto de situações que nos ajudam a perceber como não deve ser utilizado este estilo, inclusive, para o próprio bem dos seus fãs, praticantes e promotoras. Num outro sentido, o modo (leia-se gimmick matches) como terminaram as rivalidades entre Triple H e Batista, entre John Cena e JBL, entre JBL e Eddie Guerrero, entre Edge e Mick Foley, entre muitas outras, são um óptimo exemplo de como uma storyline bem conduzida pode levar ao aparecimento do hardcore wrestling style na forma que melhor o rentabiliza e maior espectacularidade lhe confere. Mostram e comprovam, mais uma vez e acima de tudo, que o hardcore wrestling style não deve, nem pode, ser encarado como um produto final, mas sim como parte complementar do pro wrestling.


E voces, o que pensam do Hardcore Wrestling Style?! Como julgam que deve ser feita a sua utilização?!


Um Abraço,
Dias Ferreira


PS: Não se esqueçam de indicar mais temas e assuntos que gostassem de ver ser tratados neste espaço.



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