Boas Pessoal!
Sejam bem vindos a mais um "Dias is That Damn
Good", o espaço com mais história na nossa CWO ;)
O Pro Wrestling enquanto modalidade de entretenimento
tem o dever de emular as mais variadas características e aspectos da
sociedade em que vivemos. Como tal, todos os temas fracturantes, todas
as polémicas e controvérsias, todas as orientações sexuais, todas
as etnias e raças e todas as grandes problemáticas devem estar
presentes nas storylines e storytelling que os seus conteúdos
apresentam. Neste sentido, assume uma relevante importância, acima
de tudo, o papel das etnias e do modo como elas são respeitadas e/ou
utilizadas nos cards das mais diversas companhias e promotoras. É,
portanto, fundamental que de entre uma panóplia de "ofertas"
a sociedade global se veja reflectida e representada nas múltiplas
faces deste fenómeno e, daí, a necessidade de possuir talentos com
estas características...o branco caucasiano (mais comum à grande
maioria dos ocidentais), os latinos de origem mexicana e
porto-riquenha (que representam uma enorme comunidade nos EUA) e os
negros afro-americanos (que, por sua vez, são de facto a segunda
etnia mais populosa em território norte-americano).
Ora, no seguimento do que tenho vindo a escrever, aquilo
que pretendo e me proponho abordar ao longo do presente artigo está
relacionado, precisamente, com esta situação...com a questão das etnias e das minorias étnicas e, em particular, com o modo e forma
como os wrestlers negros de origem afro-americana e os lutadores de
descendência latino-mexicana e porto-riquenha têm sido tratados,
aproveitados e/ou sub-aproveitados.
Não percam, por isso, as próximas linhas...
A história do pro wrestling está repleta de exemplos,
sobretudo a partir dos anos 80, de como é importante abordar as
diferentes etnias e representa-las nos rosters e conteúdos das
múltiplas companhias da modalidade. E essa mesma história
mostra-nos, também, como a aposta em talentos das mais variadas
proveniências e etnias foi benéfica na construção de planteis
repletos de star power e altamente aclamados por uma enorme
quantidade de seguidores e fãs da indústria. Recorde-mo-nos de
Rocky Johnson, por exemplo, o pai de The Rock que foi o primeiro
campeão negro na história da modalidade. Lembre-mo-nos de Junkyard
Dog e Tony Atlas que também desempenharam um importante papel no
decorrer dos anos 80. Recuperemos, numa outra etnia, os casos de Tito
Santana e Gino Hernandez, wrestlers de origem mexicana que marcaram
uma geração. Se, por outro lado, der-mos uns passos em frente,
verificamos que os anos 90, a este respeito, também não defraudaram
as expectativas e as companhias não deixaram de olhar para as
diferentes etnias como uma parte fundamental da sua programação,
tendo, inclusive, incorporado novas formas e estilos como a
lucha-libre e o puroresu através da "aquisição" de
talentos tornados célebres na prática dos mesmos. Vejamos, como
exemplos, os casos de Justin Thunder Liger, de Eddie Guerrero, de
Chavo Guerrero e Rey Mysterio, de Juventud Guerrera e Psicosis que
foram fundamentais no lançamento do estilo cruiserweight em solo
norte-americano. E olhemos, também, para a importância dos papéis
desempenhados por Steve Ray e Booker T enquanto tag team Harlem Heat
e do próprio Booker T enquanto single-wrestler, olhemos para os Nation of Domination e, em particular, para os
casos de Mark Henry e D'Lo Brown...mas vejamos, acima de qualquer
outro exemplo, o extraordinário caso de The Rock, que foi e continua
a ser sem qualquer margem para dúvidas o talento mais fantástico e
que maior sucesso alcançou pertencendo a uma mistura de etnias
afro-americana e samoana.
Porém, a primeira década do novo milénio marcaria um
novo capítulo neste fenómeno. Um novo paradigma onde esta situação
deixou de ser vista e tida com a mesma importância e onde o
aparecimento e criação de estrelas provenientes das mais diversas
etnias deixou de se conseguir fazer com o mesmo grau e nível de
sucesso. A WWE, por exemplo, teve a seu cargo, a meu ver, três
grandes oportunidades para conseguir criar a nova grande estrela
negra e/ou de ascendência africana, assim como uma tag team que
tinha tudo para ser bem sucedida ao nível das melhores da história
da modalidade. Falo, claro está, de Elijah Burke (na altura um jovem
com uma excelente imagem, repleto de carisma, com óptimas mic skills
e que se safava bastante bem dentro dos ringues), de Bobby Lashley
(que poderia receber um booking bastante semelhante ao de Brock
Lesnar e que, apesar de bem pushado, acabaria por abandonar rumo às
mixed martial arts), e, sobretudo, de MVP (talvez depois de The Rock
o wrestler negro mais talentoso e com maior potencial que alguma vez
apareceu). Por outro lado, o aparecimento da tag team Cryme Time
permitiu dar uma lufada de ar fresco na divisão de equipas da WWE,
precisamente, numa altura em que o tag team wrestling estava a ser
completamente negligenciado pela companhia. Infelizmente a empresa de
Vince McMahon não soube retirar o melhor rendimento destes talentos
e aproveita-los da forma que eles mereciam, acabando por perdê-los.
Mas se relativamente aos wrestlers negros a tarefa não tem sido fácil
e granjeado muito sucesso, o mesmo se pode dizer no que toca aos
lutadores de origem latino-mexicana e porto-riquenha...basta, para
tal, pensarmos que Sin Cara, Primo e Épico foram rotundos falhanços
e que Carlito depois de um início bastante prometedor não conseguiu
corresponder às expectativas. No mesmo sentido, talvez tenha sido
Alberto Del Rio aquele que, no pós-Eddie Guerreno e Rey Mysterio,
mais sucesso conseguiu alcançar, mas, tal como aconteceu com
Carlito, após um ínicio bastante prometedor acabou por se ir
perdendo.
Na TNA, por outro lado, nunca deixou de haver o cuidado
de apresentar a maior variedade possível no que respeita à origem
étnica dos seus wrestlers, contudo, o sucesso das suas apostas não
divergiu em muito daquele que foi alcançado pela WWE. Em todo o caso,
podemos referir o excelente percurso percorrido pela tag team Latin
American Xchange (LAX) de Hernandez e Homicide e de que como ele foi
importante para a divisão de equipas na empresa, assim como para a
comunidade latino-mexicana que a acompanhava. Infelizmente, deixaram
cair mais tarde esta mesma equipa e os wrestlers que a compunham,
apresentando, na actualidade, um esforço acima de tudo nos wrestlers
negros MVP, Bobby Lashley e Kenny King. O problema neste caso,
contudo, é o facto da TNA se revelar até ao momento completamente
incapaz de criar um grande drawer, um grande personagem e essa
situação é complicada para qualquer talento que esteja
contratualmente ligado a ela, quanto mais quando falamos de minorias
étnicas. Por seu turno, a WWE não possui actualmente qualquer
talento proveniente dessas minorias étnicas com capacidade para se
transformar numa grande estrela (porque Big E. Langston, Kofi
Kingston, Xavier Woods, Titus O'Neil, R-Truth, Sin Cara, Kalisto,
Primo e Épico, não têm, de facto, capacidade para o topo) e essa
situação é, a meu ver, grave porque acaba por negligenciar e não representar uma boa
parte daquilo que é o público que acompanha e segue a promotora de
Vince McMahon.
Para piorar as coisas, se olharmos para os lutadores com
contratos de desenvolvimento que actuam na brand NXT, também
verificamos, facilmente, uma enorme lacuna a este respeito. Pois por
mais que procuremos por um wrestler que possa representar uma minoria
étnica ou na qual essa mesma minoria se possa rever, não
conseguiremos encontrar um único em que possamos depositar grandes
expectativas e esperanças nas suas qualidades e potencial para vir a
afirmar-se como uma estrela de topo. Talvez muita gente e grande
parte dos fãs e seguidores da modalidade não dê a devida
importância a este fenómeno e não esteja minimamente preocupada
com ele...mas, pelas razões que venho apontando ao longo deste texto
e, sobretudo, pelas inúmeras storylines que se podem construir
através dos problemas gerados pelas minorias étnicas (como o
racismo e a xenofobia, a luta pela igualdade de direitos e
oportunidades, entre muitos outros temas), acredito que a questão das etnias deveria ser alvo de um muito maior cuidado e preocupação,
sobretudo, da parte de quem gere e administra as promotoras do
business.
E
vocês, qual julgam ser a importância das minorias étnicas no pro
wrestling?! O que pensam do modo como a WWE e a TNA têm tratado os
wrestlers que as representam?!
Um Abraço,
Dias Ferreira
PS:
Não se esqueçam de indicar mais temas e assuntos que gostassem de
ver ser tratados neste espaço.
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acompanhar-me, também, em:
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2 comentários:
Ora bem, a WWE tem utilizado as minorias como forma de agradar ao público americano, simplesmente pelo princípio de superioridade que ainda está bem presente nos EUA. O Del Rio por exemplo, que foi um bom draw no México para a WWE, numa altura (fim de run heel/run babyface em 2012/13) servia mais para comédia que para outra coisa. O Tatsu poderia ter sido uma foreign star típica como os cruiserweights na WCW, mas apenas no início o foi (+/-). Enquanto isso, na TNA as minorias éticas são mais respeitadas, isto na minha opinião. Ainda nos lembramos dos L.A.X. como uma excelente tag team daquela fornada de 2006/07 da TNA. Atualmente temos a coisa dos MLK que se fosse há uns anos seria muito mais bem recebida, quando a TNA era vista como a alternativa à WWE.
Actualmente a TNA com o MVP, o Bobby Lashley e o Kenny King safa-se, mas a WWE não tem qualquer talento deste género nem no roster principal, nem na NXT.
Tudo bem que o Reigns e os Usos tem descendência nas Ilhas Samoa, mas não é a mesma coisa e, nesses casos em concreto, a WWE nunca explorou, nem explora, as suas ascendências.
Abraço!
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