Boas Pessoal!
Sejam bem vindos a mais um "Dias is That Damn Good" ;)
Passando a coisas sérias...ao longo do presente texto, proponho-me abordar a questão dos "draws", analisando, acima de tudo, as razões que levam os actuais "top dogs" da modalidade a enfrentar grandes dificuldades no que respeita à sua consolidação como super estrelas do entretenimento, capazes de vender toneladas de merchandising, de encher arenas e de alcançar elevados níveis de ratings. Em simultâneo, procurarei, também, fazer uma analogia com os grandes "drawers" do Pro Wrestling no seu período de maior riqueza e fertilidade (Monday Night Wars/Attitude Era), assinalando as diferenças fundamentais que encontramos na forma como as Superstars de então eram escolhidas, criadas, construídas e consolidadas.
Não percam, portanto, as próximas linhas...
É indiscutível que o ano de 1996 trouxe profundas alterações no modo como, até então, se concebia o Pro Wrestling. A ascensão da visão de Eric Bischoff e da própria WCW com a storyline nWo e a construção de um produto bastante mais realista e dirigido, especialmente, para um público alvo entre os 14-30 anos foram, sem réstia de dúvidas, as grandes razões para que tal se verificasse. Acompanhando esta nova visão e produto vieram, por consequência, todo um conjunto de liberdades no que respeita à construção de gimmicks e realização de promos e entrevistas, que criaram um ambiente altamente propício à criatividade e à originalidade. Se a todos estes factos juntar-mos, ainda, a enorme competição que se gerou entre a WWE (então WWF) e a WCW pela liderança do mercado, compreendemos que estavam reunidos todos os ingredientes para que o clima em redor da modalidade fosse, no mínimo, entusiasmante e agregador de grandes públicos.
Por outro lado, se olharmos para as grandes estrelas do Pro Wrestling nesse mesmo período, a primeira coisa que nos salta à vista são as suas dimensões físicas. Vivia-se uma época onde se privilegiavam lutadores altos, fortes e musculados. Lutadores que conseguissem, só pela sua imagem, marcar a diferença e transformar o espectáculo em algo realmente único, que não estava ao alcance de todos...reforçou-se, então, a utilização da expressão "larger than life" que significava, acima de tudo, essa mesma singularidade que o Pro Wrestling oferecia aos seus seguidores e consumidores. Numa segunda dimensão de análise, verificamos, também, que os wrestlers de então tinham um background bastante vasto e que só chegavam ao topo (salvo raríssimas excepções) depois de acumular diversas experiências e de actuar perante inúmeras arenas (nos EUA, Japão, México, entre outros) repletas de público, o que lhes dava toda uma preparação e consistência bastante fortes para enfrentar os desafios que se lhes colocavam. Depois, importa relevar que, como actores participantes de um espectáculo de sports entertainment, era muito raro encontrar alguma estrela que não estivesse bastante bem preparada no que respeita às suas capacidades para comunicar e, por consequência, que não possuísse excelentes mic skills. Neste sentido, não podemos esquecer, também, o esforço desenvolvido pelos próprios wrestlers no sentido de se desenvolverem como estrelas com diversos traços originais e cujas características os distinguiam dos demais. Por último, é fácil compreender que havia, à época, uma enorme sensibilidade por parte das duas maiores promotoras da modalidade no que respeita aos pontos fulcrais do booking que permitiam a consolidação de novas estrelas e a sua catapultação para um patamar superior...especialmente no que respeita à criação de momentos especiais e únicos, no decorrer das feuds/storylines, que ficariam para sempre ligados a determinados wrestlers e permaneceriam para sempre na memória dos fãs (como aconteceu, por exemplo, com o final do combate entre o Bret Hart e Steve Austin...ou, ainda, na coroação deste último como King of The Ring).
Foi uma época marcada por wrestlers e rosters de grande qualidade, uma época onde era dificili-mo chegar ao topo e manter-se por lá, uma época onde lutadores como Hulk Hogan, Kevin Nash, Scott Hall, Undertaker, Steve Austin, The Rock, Triple H e Goldberg se destacaram da concorrência e conseguiram, por si, encher arenas, vender toneladas de merchandising, fazer crescer os ratings de forma exponencial e elevar a própria modalidade para um patamar/nível nunca antes alcançado...foi a época dos grandes draws e dos grandes drawers.
Por contraponto ao que aconteceu a partir de 1996, durante a Monday Night Wars e a WWE Attitude Era, o desaparecimento da WCW e a incapacidade da TNA para se constituir numa verdadeira alternativa à WWE, contribuíram para que a empresa de Vince McMahon abrandasse todo o seu processo criativo e para que, de certa forma, se acomodasse há situação confortável de não ter de se preocupar com qualquer concorrência. Se a este facto acrescentar-mos a mudança do público-alvo da companhia para uma faixa etária de idade reduzida e as limitações decorrentes de um conteúdo PG, compreendemos que não se produziu qualquer evolução no que respeita à forma como o Pro Wrestling era produzido...efectivou-se, antes, um retrocesso, um regresso ao passado (dos anos 80 e início dos anos 90) no que respeita ao produto que a companhia vende e produz. A consequência de todas estas situações e acontecimentos foi, como é perceptível nos dias de hoje, uma enorme quebra no que respeita à qualidade do produto, ao entusiasmo dos fãs e grandes públicos e, acima de tudo, uma grande machadada nos ratings e na capacidade competitiva que o Pro Wrestling apresenta relativamente a outros desportos e formas de entretenimento.
Neste sentido, também os wrestlers e as suas idiossincrasias se alteraram nos últimos anos. A dimensão física foi uma daquelas onde essas alterações mais se fizeram sentir, sendo que as limitações no que respeita ao tamanho e musculação dos lutadores deixaram de existir (ou pelo menos com o vigor de outrora) e essa situação modificou um paradigma, muitas vezes polémico, permitindo aos mais pequenos ocupar o mesmo lugar no card que os altos, fortes e musculados. No entanto, na minha opinião, é também ela uma situação que contribuiu para abalar alguma singularidade e espectacularidade do Pro Wrestling, anulando a premissa de que não era uma modalidade ao alcance de todos e permitindo ao invés que o mais comum dos mortais pudesse tornar-se num lutador de topo. Outra dimensão importantíssima onde se produziram alterações negativas está ligada às gimmicks/personagens e às feuds/storylines, onde a criatividade e originalidade de outrora foram substituídas por conteúdos pouco densos, repetitivos, enfadonhos e, por diversas ocasiões, carentes de lógica. Os wrestlers deixaram de conseguir criar personagens cativantes (que se conseguem, na maior parte das vezes, com um equilíbrio entre a personalidade do actor e a própria personagem), deixaram de ser únicos, deixaram de criar (salvo raras excepções) movimentos novos e até na construção dos próprios combates (em grande medida devido à falta de experiência e tempo na modalidade) abandonaram a psicologia de ringue em detrimento de um script (e spots) que se vai repetindo show após show, espectáculo após espectáculo, PPV após PPV. Por último, no que respeita às mic skills, verificamos que a "bagagem" dos lutadores actuais e a sua própria liberdade (ou falta dela) é bastante condicionada, sendo que os scripts aparecem como salvação para alguns, mas uma grande limitação às capacidades de outros e essa situação também afecta a qualidade das promos e das entrevistas.
O conjunto das top stars de hoje é composto por nomes como John Cena, Randy Orton, CM Punk e Daniel Bryan. E a verdade é que por mais polémico e desgastado que esteja, o único que realmente se constitui como um drawer é John Cena. O Randy Orton teve um ano de 2011 excelente, mas a verdade é que nunca conseguiu estabelecer-se como um heel capaz de criar babyfaces e, por consequência, capaz de se tornar num drawer que enchesse as arenas para o verem ser derrotado. Por sua vez, o CM Punk apesar do crescimento assinalável que registou, está há 3 anos no topo, sempre integrado nas storylines de maior importância da companhia e a verdade é que não só não conseguiu chegar ao nível de um drawer como os ratings das suas promos, entrevistas, segmentos e combates nunca atingiram os níveis que se lhe exigiam. Por último, o Daniel Bryan tem estado a receber um booking bastante semelhante ao que esteve na origem da explosão de Steve Austin...contudo, e apesar de receber uma óptima resposta das plateias, a verdade é que apresenta enormes lacunas no que respeita às suas mic skills e ao nível dos ratings também tem deixado bastante a desejar.
Não me interpretem mal, eu considero o Orton, o Punk e o Bryan excelentes wrestlers e, em conjunto com o Cena são, de facto, os melhores da actualidade...agora, a situação que descrevi anteriormente compreende-se porque se estivesse-mos em plena Attitude Era e com os rosters de então, muito dificilmente o Orton, o Punk e o Bryan passariam do mid card. E esta situação ajuda a perceber, também, os produtos apresentados nas diferentes épocas, a sua qualidade e o porquê de um significar o ponto alto do Pro Wrestling e o outro uma época de estagnação e decréscimo de popularidade.
E vocês, o que pensam impedir os top dogs da actualidade de se constituírem como verdadeiros "drawers"?!
Um Abraço!
Dias Ferreira
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