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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Dias is That Damn Good #181 – "Estereótipos e Controvérsia"

Boas Pessoal!



Sejam bem vindos a mais um "Dias is That Damn Good", uma das colunas com mais história na nossa CWO ;)

No Pro Wrestling, para além do atleticismo e da capacidade atlética dos seus intervenientes, entre outras, a questão dos Gimmicks/Personagens, das Storylines e das Rivalidades sempre assumiram um papel chave e preponderante. De facto, são estas características que, em grande medida, nos aproximam ou afastam de determinado wrestler, são elas que nos fazem querer ver o confronto entre dois ou mais lutadores, em última análise, são elas que devem moldar os combates e, por consequência, todo o espectáculo que enquadra a própria modalidade. Neste sentido, podemos dizer que as temáticas que estão na génese de qualquer gimmick, storyline e/ou rivalidade assumem determinante e fundamental importância.

Dito isto, aquilo que vos proponho ao longo do presente texto será, portanto, uma reflexão e abordagem sobre os assuntos e matérias que, de uma maneira ou de outra, poderiam refrescar o produto que as diversas promotoras de Pro Wrestling, hoje, nos oferecem. Procurarei, ainda, de forma mais superficial, enquadrar nesta mesma análise os temas que na actualidade e num passado recente estão na génese das mais diversas feuds, personagens e histórias.

Não percam, por isso, as próximas linhas...



Como referi, na introdução ao presente texto, não basta aos wrestlers serem capazes de montar um combate repleto de acrobacias e grandes spots para que ele seja realmente bom, da mesma forma que essa situação nunca chegará para convencer os fãs e espectadores de ocasião a querer ver o embate entre ambos. É o personagem que desempenham e a história que os envolve que, de uma maneira ou de outra, desperta o interesse do público e os leva a querer comprar bilhetes e/ou PPVs para poder assistir a determinado combate. Do mesmo modo que, é a forma como se desenvolve a história da rivalidade entre os lutadores que condiciona e limita (ou pelo menos deveria ser assim) a construção desse mesmo combate. Relembro que o Pro Wrestling não trata de proporcionar uma luta verdadeira entre reais adversários, trata sim de montar um espectáculo encenado onde os wrestlers contam uma história com o seu corpo dentro do ringue (ou fora dele, se for esse o caso). Desta forma, compreende-se que, para além do carisma, das mic skills e da capacidade atlética de cada um, a personagem escolhida pelo lutador e as histórias em que este se vê envolvido assumirão um papel determinante na reacção que este, por sua vez, conseguirá gerar nas plateias, no público, nos espectadores, nos fãs. E o maior ou menor poder de atracção de um combate reflectirá, sempre, este paradigma.

Por outro lado, a história da modalidade mostra-nos que as temáticas presentes nas diversas storylines e rivalidades (o mesmo vale para os gimmicks) dotam as mesmas de mais e maior impacto consoante for o seu grau de realismo e actualidade no que respeita ao ambiente e sociedade em que se vive. Ora, com isto, o que realmente pretendo dizer é que se os gimmicks escolhidos para moldar determinado wrestler não reflectem um estereótipo característico da época e sociedade em que vivemos, muito dificilmente esse mesmo lutador conseguirá gerar fortes reacções nos fãs e retirar grande proveito do personagem que interpreta. O mesmo serve para as Storylines e Rivalidades...se estas não tocarem em temas polémicos, controversos e fracturantes da sociedade em que se vive, o seu potencial será sempre, irremediavelmente, menor. Para melhor compreender-mos esta situação, basta verificar-mos que o produto que era tido por genial nos anos 70 já não se adequava aos anos 80 e que, por sua vez, o modelo implementado nos anos 80 deixou de fazer sentido nos anos 90. Mais concretamente, percebemos que os gimmicks e histórias cartoonizadas da WWE dos anos 80 não conseguiram colher grande apoio e entusiamo nos anos 90, daí que a empresa tenha sentido necessidade de mudar e adoptar a famosa Attitude Era. Na WCW sucedeu exactamente o mesmo, teve de haver uma actualização de conteúdos, deixando de parte as rivalidades e histórias que tanto sucesso tiveram nos anos 80, para que a promotora conseguisse voltar a crescer e a atingir o desejado sucesso.



Hoje, contudo, ao olharmos para os wrestlers e storylines das duas maiores promotoras da modalidade, percebemos que há uma grande negligência no que respeita a esta situação. De facto, os conteúdos e temáticas escolhidos, salvo raras excepções, na formação de gimmicks e rivalidades estão de tal forma desfazados da sociedade em que vivemos e dos valores que ela advoga, que a estagnação e o retrocesso (relativamente ao ambiente que envolve a modalidade) têm vindo a dominar flagrantemente o produto dos últimos 10 anos. É muito raro encontrar storylines que não se centrem apenas no wrestling em si e que não negligenciem as problemáticas do mundo que nos rodeia...os confrontos são quase todos originados pela disputa de títulos ou resultantes de vinganças decorrentes dos embates na luta pelos mesmos, tornando-se tremendamente repetitivos e enfadonhos...impendindo, consequentemente, que os fãs os vejam como algo novo e que têm obrigatoriamente de assistir. Recentemente, numa entrevista, Christopher Daniels dizia que não compreendia como a TNA podia ter optado pelos "Broman's" ao invés da equipa que ele formava com Kazarian, uma vez que ele e o seu parceiro eram muito melhores wrestlers. Ora, estas palavras de Daniels denotam uma outra realidade, a de que são os próprios wrestlers da nova geração (da geração pós-Monday Night Wars) que não compreendem o fenómeno que tenho vindo a abordar ao longo do texto. A TNA optou pelos "Broman's" e fê-lo muito bem...de facto, no ringue, não são tão bons como os "Bad Influence", no entanto, eles retratam um estereótipo da sociedade actual, eles têm um gimmick na qual os fãs e jovens de hoje se revêm e, por mais estúpidos e/ou odiosos que possam parecer, como heels desempenham o seu papel com enorme brilhantismo...já para não dizer que as suas in-ring skills não são nada más. E eu, mesmo não conhecendo os números, aposto que os "Broman's" conseguem bons ratings para a TNA, certamente, melhores ratings que aqueles que os "Bad Influence" alguma vez conseguiram.

Ainda assim, parece que o único estereótipo e controvérsia que as promotoras nunca deixaram de lado e de procurar explorar, foi o do trabalhador a quem o patrão faz constantemente a vida negra e que se vê recorrentemente ameaçado pelo mesmo. E a verdade é que esta é uma controversia/polémica que será sempre actual e comum a qualquer sociedade, uma situação que dará proveitos mesmo quando utilizada 1, 2 e 3 vezes...veja-se o caso de Daniel Bryan, como exemplo, se não foi semelhante ao de John Cena e anteriormente ao de Steve Austin. Certo é que, em ambas as situações, o sucesso foi sempre tremendo. Mas, na minha opinião, não chega, é muito curto. É necessário estudar bem a sociedade global em que vivemos e descortinar quais os seus grandes problemas, quais os seus temas mais fracturantes, quais as matérias que criam maior polémica e controvérsia...até porque, como diz Eric Bischoff no seu livro, "Controversy Creates Cash", mas também "Buzz", pavilhões lotados, toneladas de vendas de merschandising e um ambiente em redor da modalidade muito mais entusiástico e saudável. E mesmo que não consigam encontrar algo de verdadeiramente inovador, existe sempre a possibilidade de nos agarrar-mos aos velhos esterótipos e preconceitos universais, aqueles que dificilmente não estarão presentes e marcados nas mais diversas sociedades...o racismo (especialmente contra os negros), a homossexualidade, a violência doméstico-relacional machista, as minorias étcnicas, aos grupos mais satirizados de determinada região/estado (como os Rednecks do Texas), entre muitos outros. Mas é bom que entendam esta situação rápido e que façam algo para mudar o actual rumo dos acontecimentos porque o produto está chato e enfadonho como tudo e, acima de tudo, porque o "business" está num "coma" profundo.


E vocês, quais os temas facturantes (estereótipos e controversias) que gostariam de ver tratados nos gimmicks, feuds e storylines?!


Um Abraço!
Dias Ferreira



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