Boas Pessoal!
Sejam bem
vindos a mais um "Dias is That Damn Good", uma das colunas
com mais história na nossa CWO ;)
No Pro
Wrestling, para além do atleticismo e da capacidade atlética dos
seus intervenientes, entre outras, a questão dos
Gimmicks/Personagens, das Storylines e das Rivalidades sempre
assumiram um papel chave e preponderante. De facto, são estas
características que, em grande medida, nos aproximam ou afastam de
determinado wrestler, são elas que nos fazem querer ver o confronto
entre dois ou mais lutadores, em última análise, são elas que
devem moldar os combates e, por consequência, todo o espectáculo
que enquadra a própria modalidade. Neste sentido, podemos dizer que
as temáticas que estão na génese de qualquer gimmick, storyline
e/ou rivalidade assumem determinante e fundamental importância.
Dito isto,
aquilo que vos proponho ao longo do presente texto será, portanto,
uma reflexão e abordagem sobre os assuntos e matérias que, de uma
maneira ou de outra, poderiam refrescar o produto que as diversas
promotoras de Pro Wrestling, hoje, nos oferecem. Procurarei, ainda,
de forma mais superficial, enquadrar nesta mesma análise os temas
que na actualidade e num passado recente estão na génese das mais
diversas feuds, personagens e histórias.
Não percam,
por isso, as próximas linhas...
Como referi,
na introdução ao presente texto, não basta aos wrestlers serem
capazes de montar um combate repleto de acrobacias e grandes spots
para que ele seja realmente bom, da mesma forma que essa situação
nunca chegará para convencer os fãs e espectadores de ocasião a
querer ver o embate entre ambos. É o personagem que desempenham e a
história que os envolve que, de uma maneira ou de outra, desperta o
interesse do público e os leva a querer comprar bilhetes e/ou PPVs
para poder assistir a determinado combate. Do mesmo modo que, é a
forma como se desenvolve a história da rivalidade entre os lutadores
que condiciona e limita (ou pelo menos deveria ser assim) a
construção desse mesmo combate. Relembro que o Pro Wrestling não
trata de proporcionar uma luta verdadeira entre reais adversários,
trata sim de montar um espectáculo encenado onde os wrestlers contam
uma história com o seu corpo dentro do ringue (ou fora dele, se for
esse o caso). Desta forma, compreende-se que, para além do carisma,
das mic skills e da capacidade atlética de cada um, a personagem
escolhida pelo lutador e as histórias em que este se vê envolvido
assumirão um papel determinante na reacção que este, por sua vez,
conseguirá gerar nas plateias, no público, nos espectadores, nos
fãs. E o maior ou menor poder de atracção de um combate
reflectirá, sempre, este paradigma.
Por outro
lado, a história da modalidade mostra-nos que as temáticas
presentes nas diversas storylines e rivalidades (o mesmo vale para os
gimmicks) dotam as mesmas de mais e maior impacto consoante for o seu
grau de realismo e actualidade no que respeita ao ambiente e
sociedade em que se vive. Ora, com isto, o que realmente pretendo
dizer é que se os gimmicks escolhidos para moldar determinado
wrestler não reflectem um estereótipo característico da época e
sociedade em que vivemos, muito dificilmente esse mesmo lutador
conseguirá gerar fortes reacções nos fãs e retirar grande
proveito do personagem que interpreta. O mesmo serve para as
Storylines e Rivalidades...se estas não tocarem em temas polémicos,
controversos e fracturantes da sociedade em que se vive, o seu
potencial será sempre, irremediavelmente, menor. Para melhor
compreender-mos esta situação, basta verificar-mos que o produto
que era tido por genial nos anos 70 já não se adequava aos anos 80
e que, por sua vez, o modelo implementado nos anos 80 deixou de fazer
sentido nos anos 90. Mais concretamente, percebemos que os gimmicks e
histórias cartoonizadas da WWE dos anos 80 não conseguiram colher
grande apoio e entusiamo nos anos 90, daí que a empresa tenha
sentido necessidade de mudar e adoptar a famosa Attitude Era. Na WCW
sucedeu exactamente o mesmo, teve de haver uma actualização de
conteúdos, deixando de parte as rivalidades e histórias que tanto
sucesso tiveram nos anos 80, para que a promotora conseguisse voltar
a crescer e a atingir o desejado sucesso.
Hoje, contudo,
ao olharmos para os wrestlers e storylines das duas maiores
promotoras da modalidade, percebemos que há uma grande negligência
no que respeita a esta situação. De facto, os conteúdos e
temáticas escolhidos, salvo raras excepções, na formação de
gimmicks e rivalidades estão de tal forma desfazados da sociedade em
que vivemos e dos valores que ela advoga, que a estagnação e o
retrocesso (relativamente ao ambiente que envolve a modalidade) têm
vindo a dominar flagrantemente o produto dos últimos 10 anos. É
muito raro encontrar storylines que não se centrem apenas no
wrestling em si e que não negligenciem as problemáticas do mundo
que nos rodeia...os confrontos são quase todos originados pela
disputa de títulos ou resultantes de vinganças decorrentes dos
embates na luta pelos mesmos, tornando-se tremendamente repetitivos e
enfadonhos...impendindo, consequentemente, que os fãs os vejam como
algo novo e que têm obrigatoriamente de assistir. Recentemente, numa
entrevista, Christopher Daniels dizia que não compreendia como a TNA
podia ter optado pelos "Broman's" ao invés da equipa que
ele formava com Kazarian, uma vez que ele e o seu parceiro eram muito
melhores wrestlers. Ora, estas palavras de Daniels denotam uma outra
realidade, a de que são os próprios wrestlers da nova geração (da
geração pós-Monday Night Wars) que não compreendem o fenómeno
que tenho vindo a abordar ao longo do texto. A TNA optou pelos
"Broman's" e fê-lo muito bem...de facto, no ringue, não
são tão bons como os "Bad Influence", no entanto, eles
retratam um estereótipo da sociedade actual, eles têm um gimmick na
qual os fãs e jovens de hoje se revêm e, por mais estúpidos e/ou
odiosos que possam parecer, como heels desempenham o seu papel com
enorme brilhantismo...já para não dizer que as suas in-ring skills
não são nada más. E eu, mesmo não conhecendo os números, aposto
que os "Broman's" conseguem bons ratings para a TNA,
certamente, melhores ratings que aqueles que os "Bad Influence"
alguma vez conseguiram.
Ainda assim,
parece que o único estereótipo e controvérsia que as promotoras
nunca deixaram de lado e de procurar explorar, foi o do trabalhador a
quem o patrão faz constantemente a vida negra e que se vê
recorrentemente ameaçado pelo mesmo. E a verdade é que esta é uma
controversia/polémica que será sempre actual e comum a qualquer
sociedade, uma situação que dará proveitos mesmo quando utilizada
1, 2 e 3 vezes...veja-se o caso de Daniel Bryan, como exemplo, se não
foi semelhante ao de John Cena e anteriormente ao de Steve Austin.
Certo é que, em ambas as situações, o sucesso foi sempre tremendo.
Mas, na minha opinião, não chega, é muito curto. É necessário
estudar bem a sociedade global em que vivemos e descortinar quais os
seus grandes problemas, quais os seus temas mais fracturantes, quais
as matérias que criam maior polémica e controvérsia...até porque,
como diz Eric Bischoff no seu livro, "Controversy Creates Cash",
mas também "Buzz", pavilhões lotados, toneladas de vendas
de merschandising e um ambiente em redor da modalidade muito mais
entusiástico e saudável. E mesmo que não consigam encontrar algo
de verdadeiramente inovador, existe sempre a possibilidade de nos
agarrar-mos aos velhos esterótipos e preconceitos universais,
aqueles que dificilmente não estarão presentes e marcados nas mais
diversas sociedades...o racismo (especialmente contra os negros), a
homossexualidade, a violência doméstico-relacional machista, as
minorias étcnicas, aos grupos mais satirizados de determinada
região/estado (como os Rednecks do Texas), entre muitos outros. Mas
é bom que entendam esta situação rápido e que façam algo para
mudar o actual rumo dos acontecimentos porque o produto está chato e
enfadonho como tudo e, acima de tudo, porque o "business"
está num "coma" profundo.
E vocês,
quais os temas facturantes (estereótipos e controversias) que
gostariam de ver tratados nos gimmicks, feuds e storylines?!
Um Abraço!
Dias Ferreira
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