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quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Dias is That Damn Good #182 – "O Estranho Caso de Damien Sandow"

Boas Pessoal!



Sejam bem vindos a mais um "Dias is That Damn Good", umas das colunas com mais história na nossa CWO ;)

Ao longo dos anos, conseguimos identificar uma série de wrestlers como, na nossa opinião, não estando a ser utilizados da melhor forma ou, pelo menos, não estando a ser explorado todo o seu potencial. Comumente, chamamos-lhes lutadores "underrated". Se esta situação é, na grande maioria dos casos, encarada com naturalidade até porque sempre se verificou e irá continuar a verificar (todos temos as nossas opções e os bookers e promotores não fogem à regra), a verdade é que há casos tão gritantes de uma sub-rentabilização de determinados talentos que se torna incompreensível e inaceitável a má utilização e o péssimo booking de que os mesmos são alvo.

O caso Damien Sandow é, a meu ver, uma dessas situações, um exemplo de como a companhia negligenciou um dos seus talentos com maior qualidade e potencial. Neste sentido, e fazendo jus ao subtítulo do presente texto, aquilo que, hoje, me leva a escrever-vos é, precisamente, o modo e maneira como a WWE tem vindo a tratar Sandow, complementando a análise deste "problema" com uma reflexão, também, centrada na forma como se foi desenvolvendo o seu personagem e posição no card da empresa.

Não percam, portanto, as próximas linhas...



Quando falamos de lutadores mal aproveitados ou os classificamos de "underrated" significa, acima de tudo, que lhes reconhecemos qualidade, capacidade e potencial para desenvolver um trabalho de maior importância que aquele que estão a desempenhar. Significa, ainda e também, que compreendemos a sua utilidade para a promotora a que pertencem como sendo de uma relevância substancialmente superior àquela que a própria promotora lhe reconhece. São exemplos deste "fenómeno" aqueles wrestlers que andam perdidos no low card das companhias, servindo como jobbers ou participando, tão só e apenas, de pequenos segmentos de humor cuja importância mais não é que a de responder à necessidade de aliviar um pouco a seriedade e densidade de alguns programas, shows e ppv's. Mas podem, e devem, ser considerados exemplos desta situação também aqueles lutadores que embora tratados de uma forma séria e credível se encontram completamente estagnados no mid card das promotoras e aos quais reconhecemos valor para algo mais. Contudo, e assumindo um papel fundamental em toda esta discussão, importa também denotar quais são as características essenciais a um wrestler para que tenha futuro e potencial para chegar ao topo. Da mesma forma, é fundamental saber se aquilo que nos leva a gostar mais ou menos de um lutador e a sentir que ele está a ser bem ou mal rentabilizado corresponde a essas mesmas características indispensáveis a qualquer um que sonhe tornar-se num main eventer ou "top dog" da modalidade.

Neste sentido e balizando esses mesmas características para facilitar a nossa análise e reflexão, julgo ser aceite por todos que a questão da imagem, do carisma, do gimmick/personagem, das mic skills e in-ring skills e da capacidade para se proteger das lesões são os factores fulcrais em todo este processo. No entanto, não é de somenos importância a questão da lealdade e confiança que se assegura junto da companhia a que se pertence. Neste caso, posso até dar um exemplo recente bastante prático e fácil de compreender...quem esteve atento ao circuito independente nos últimos anos conhece, certamente, a equipa Kings of Wrestling formada por Chris Hero (Kassius Ohno na WWE) e Claudio Castagnoli (Antonio Cesaro na WWE) e também sabe que o primeiro era o lutador mais talentoso e com maior potencial da tag team. Contudo, e tendo ambos chegado à WWE praticamente na mesma altura, verificamos que o sucesso de um é inversamente proporcional ao sucesso do outro...e isso aconteceu por uma questão de confiança. Como se sabe, o Antonio Cesaro foi sempre fazendo aquilo que a empresa lhe pedia e a verdade é que tem a sua carreira completamente lançada. Por sua vez, o Chris Hero desleixou-se, recebeu vários avisos para tratar da sua imagem (corpo e forma física) e nunca lhes deu ouvidos...acabou por ver o seu contrato terminado.



Voltando ao tema central do presente texto...importa relembrar que Damien Sandow foi treinado por Killer Kowalski (o mesmo que treinou Triple H) e se há coisa que os alunos de Kowalski evidenciam de uma forma claríssima é a sua psicologia de ringue. De facto, os wrestlers treinados pelo velho Killer têm uma compreensão muito própria e especial dos combates em que estão inseridos, conseguindo transportar para os mesmos não só o seu próprio personagem, mas também as rivalidades e storylines de que tomam parte. Conseguem, ainda, envolver com a sua expressividade facial e corporal as plateias de uma forma bastante emocional e sabem, como poucos, ler e interpretar o que o público quer e aquilo que mexe com os fãs. Ora, no que toca a Damien Sandow, também ele conseguiu "herdar" todos estes ensinamentos e conhecimentos e incorpora-los nas suas ring-skills, parecendo-me óbvio que o demonstra de forma clara nos seus combates. Para além disso, é um lutador que se protege muito bem, que raramente se lesiona, e que nunca vi "botchar", sabendo, ainda, "vender" muito bem os seus adversários. Por outro lado, a imagem e porte físico de Damien correspondem claramente aos padrões clássicos da WWE e esse é um ponto que joga a seu favor. Tal como também está a seu favor, o facto de ser alguém que apresenta uma excelente capacidade comunicacional (e, por isso, umas óptimas mic skills), um carisma bastante natural e, acima de tudo, uma enorme aptência para gerar reacções nas plateias...podem adorá-lo ou odiá-lo, mas não se lhe conseguem ficar indiferente e essa é uma qualidade indispensável a qualquer "top guy". Por último, chegamos àqueles que são, na minha opinião, os seus maiores pontos fracos, sendo que, muito provavelmente, nenhum é de responsabilidade própria...o gimmick e o booking de que tem sido alvo.

Recordo que Damien Sandow regressou à WWE com um novo nome e personagem, completamente distintos daqueles que havia interpretado na sua primeira passagem pela companhia. Fez o seu debut como "The Intellectual Savior of Masses", um gimmick que, apesar do seu curto potencial, tinha tudo para gerar o "heat" necessário a um jovem heel que se estava a lançar. Sandow percorreu o seu caminho, primeiro com uma "winning streak", depois com combates mais sólidos e alguns segmentos de maior relevância, consolidou o seu estatuto e posição no card...mais tarde haveria de conquistar o Money in The Bank Ladder Match e atingir um momento fulcral para o definitivo lançamento (rumo ao topo). O ponto mais alto foi quando fez o "cash in" em John Cena num Monday Night RAW e a verdade é que para além das condições estarem reunidas para que ele conquistasse o título (seria algo inesperado e refrescante naquela altura) à época Sandow estava extremamente over. Infelizmente a WWE decidiu-se por outro caminho e rumo...John Cena apesar de muito combalido conseguiu reter o título e descredibilizar um jovem talento em ascendência clara e, a partir daí, foi sempre a descer. Ao invés de catalizar o bom momento de que Damien gozava para lhe alterar o gimmick para algo mais sério e intenso, algo com mais potencial...a booking deixou-o cair por completo. Desde então, Sandow não tem mais um personagem, limita-se a imitar algumas vedetas, a participar de alguns segmentos de humor e a servir de jobber da companhia. Ora, se isto não foi uma péssima decisão, então, realmente, não devo "petiscar" mesmo nada da coisa. Certo é que Damien Sandow vai fazer 32 anos neste Verão e está a chegar o momento para que lhe atribuam um "push" verdadeiramente consistente e coerente, está a chegar a altura de confiarem e acreditarem nele porque não o fazer é um erro tremento e um desperdício de talento como há muito não se via.

E vocês, o que pensam de Damien Sandow e da forma como a WWE o está a utilizar?!

Um Abraço,
Dias Ferreira


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