Boas Pessoal!
Sejam bem
vindos a mais um "Dias is That Damn Good", um dos espaços
mais antigos da nossa CWO ;)
Há uns anos
atrás, quando era um membro em regime "full-time" da
comunidade de wrestling nacional e estava à frente do XBooker,
escrevi uma série de textos em que aplicava o modelo da Análise
SWOT às mais diversas situações que as promotoras e a própria
modalidade, naquele momento, enfrentavam. Para quem não sabe, o
termo SWOT significa Strenghts, Weaknesses, Opportunities and
Threats...ou seja, trata acima de tudo de uma análise aos pontos
fortes, aos pontos fracos, às oportunidades e às ameaças que
decorrem de determinada situação e/ou acontecimento.
Ora, aquilo
que hoje me proponho abordar será, através de uma Análise SWOT,
toda a situação que envolveu o final da WCW e as consequências,
quer para o produto, quer para a indústria do Pro Wrestling, que daí
advieram.
Não percam,
portanto, as próximas linhas...
Comece-mos,
primeiro, por aqueles que identifico como sendo os principais Pontos
Fortes e Oportunidades geradas com a aquisição da WCW por parte de
Vince McMahon...
Pontos
Fortes e Oportunidades:
- Storyline de Enorme Potencial
Se pensarmos naquilo que foi a história dos anos 90, no
que toca ao Pro Wrestling, não podemos deixar de nos referir às
Monday Night Wars e ao conflito entre a WWE e a WCW como o
acontecimento mais relevante e de maior importância no que a esta
indústria diz respeito. O embate entre as duas promotoras de maior
dimensão trouxe grandes benefícios, quer para os fãs, quer para os
wrestlers, quer para o produto apresentado, quer, acima de tudo, para
o próprio business. De facto, os conteúdos tornaram-se cada vez
mais reais e credíveis, respondendo aos anseios de uma sociedade que
tinha mudado e evoluído, procurando, consequentemente, novas formas
de entretenimento mais modernas e adequadas à época e momento que
se vivia. Ora, neste contexto, o kayfabe foi perdendo alguma da sua
relevância e a concorrência entre as duas grandes companhias
traduzia-se, também, na tensão latente entre as administrações e
lutadores de ambos os lados da barricada...e essa situação passou
claramente para o produto e programação que eram apresentados aos
fãs. Desta forma, tudo aquilo que acontecia na realidade, de uma
maneira ou de outra, acabava por se tornar num conteúdo de elevado
potencial a explorar nos RAWs e nos Nitros. Neste sentido, percebemos
que aquando da aquisição da WCW por parte de Vince McMahon, as
sementes para a construção de uma storyline memorável estavam
definitivamente lançadas. De facto, a possibilidade de trazer para a
programação toda a rivalidade entre os intervenientes das Monday
Night Wars e colocá-la num só show e ppv's era algo tremendo e
conseguiria agarrar à televisão e modalidade, não apenas os seus
fãs e mais fiéis seguidores, mas também uma larga camada de
espectadores e telespectadores casuais que, certamente, quereriam
saber como terminaria todo o processo que levou ao encerramento da
WCW. Por outro lado, penso que também todos gostariam de saber como
seriam recebidos de volta os grandes talentos como Hulk Hogan, Kevin
Nash e Scott Hall (fundadores da nWo) e quais as reácções de Vince
McMahon e Eric Bischoff nos segmentos em que se enfrentariam e
trocariam palavras. Portanto, esta situação constituiu um ponto
bastante forte e uma oportunidade única para criar, talvez, a
storyline das storylines. Haveria, pelo menos, materia para 2 anos ao
mais alto nível, com elevados níveis de interesse e ratings que
bateriam records...isto, se as coisas fossem realmente bem feitas, o
que, como sabemos, não aconteceu.
- Dream Matches:
Outra situação que a aquisição da WCW permitia seria
a inclusão no roster da WWE de wrestlers de enormíssima qualidade e
de uma elevadíssima popularidade. O star power da companhia de Vince
McMahon poderia crescer significativamente e este teria às suas
ordens o melhor plantel algum vez existente na história da
modalidade. Ora, como consequência dessa situação, nada menos
seria de esquerar que a construção de storylines, rivalidades e
combates lendários...entre estrelas da modalidade que, pelas suas
carreiras e pertença a uma ou outra promotora, nunca tinham cruzado
os seus caminhos. E é aqui, neste ponto, que entram os Dream
Matches...aqueles combates que até à derrocada da WCW ninguém
acreditava poderem vir a acontecer, mas que, uma vez possíveis,
pagariam tudo o que pudessem para os poder ver. Não nos podemos
esquecer que o Pro Wrestling também vive muito de momentos especias,
de acontecimentos épicos e, neste sentido, os Dream Matches assumem
esse mesmo papel e função. Como sabemos, de realmente épico,
apenas assistimos ao The Rock vs. Hulk Hogan, no entanto, essa foi
uma contingência do booking e das más decisões que se
tomaram...porque, uma coisa é certa, a capacidade e potencial, na
altura, para construir uma série de Dream Matches e momentos épicos
e inesquecíveis, era tremenda.
Passemos, agora, aos Pontos Fracos e Ameaças
fundamentais que se criaram com o fim da WCW...
Pontos
Fracos e Ameaças:
- A Ausência de Concorrência:
Se houve acontecimento marcante que teve na sua génese
o fim das Monday Night Wars e o encerramento da WCW, foi a total
aniquilação da concorrência. Uns meses antes, tinha fechado a ECW,
pelo que restavam apenas 3 ou 4 territórios independentes que, com o
passar do tempo, também encerrariam ou tornar-se-iam territórios de
desenvolvimento da WWE. Deixando de existir um alternativa à empresa
de Vince McMahon aqueles que mais sofreram com essa situação, de
forma directa, foram os próprios wrestlers e restantes workers para
quem um falhanço na única main stream que restava resultaria,
inevitavelmente, na penuria em que se encontrava o circuito
independente norte-americano (à data) ou na emigração (aparecendo
o México e o Japão como países preferênciais). Por outro lado, o
facto de não haver concorrência relaxou o processo criativo na WWE
e, uma vez que não precisavam mais preocupar-se com um produto
concorrente, estagnaram quase por completo. Neste caso, quem mais
sofreu, de forma indirecta, acabaram por ser os fãs, uma vez que o
produto perdeu qualidade e interesse de uma forma bastante
substâncial. No entanto, e embora tenha havido algum recrudescimento
no business (com o crescimento da TNA e o desenvolvimento da ROH), a
verdade é que até hoje ainda não apareceu (e acredito que a
aparecer será preciso esperar-mos muito tempo) uma promotora que se
constituísse numa verdadeira alternativa à WWE...até porque do
ponto de vista dimensional e organizacional, da capacidade financeira
e da popularidade estão todas a léguas...infelizmente.
- A Monopolização da Indústria:
Um outro fenómeno que ocorreu com o "fechar de
portas" da WCW, foi a monopolização quase por completo da
indústria e do business por parte da WWE. De facto, com o final das
Monday Night Wars e a vitória esclarecedora da empresa de Vince
McMahon (isto para não falar na super-estrutura com que a companhia
ficou), tornou-se bastante claro que seria impossível a qualquer
cadeia de televisão que apostasse numa promotora da modalidade
querer que ela pudesse tornar-se competitiva num curto-médio prazo.
Por esta razão, entre outras, as cadeias de televisão não quiseram
arriscar e, elas próprias, fechando o mercado televisivo, criaram
diversas dificuldades às pequenas promotoras independentes que
procuravam dar os primeiros passos e ganhar uma maior visibilidade
(neste aspecto, o exemplo da TNA é sintomático). Mas esta
monopolização do business assumiu e ainda hoje assume aspectos bem
mais perversos como o clima e ambiente de muito menor vigor, apoio e
aceitação que se vive em redor da mesma. Por outro lado, não
esqueçamos que há bem pouco tempo a WWE ameaçou retirar de todas
as suas "tours" as arenas que aceitassem realizar eventos
da TNA. O monopólio, seja qual for a área em que se edifica, tende
a ter destas coisas, tende a sufocar e a colocar um garrote em todas
as organizações que possam constituir-se uma ameaça à sua
completa dominação...ora, isto é mau para o business, é mau para
os fãs e é péssimo para os wrestlers e restantes workers da
indústria.
Conclusões:
Quando procuramos chegar a uma conclusão a respeito
deste assunto, acredito que, se por um lado podemos avaliar os pontos
fracos e as ameaças como uma consequência perfeitamente natural de
um processo onde as alternativas e concorrência são eliminadas e
tudo se centra num grande monopólio...por outro prisma, não devemos
avaliar os pontos fortes e as oportunidades que a queda da WCW gerou
apenas pela forma como ela foi gerida ou aproveitada pela WWE, até
porque como ficou demonstrado, os pontos fortes e as oportunidades
poderiam ter dado origem a algo tremendo. Contudo, eu gosto de pensar
a longo prazo e, quando assim é, colocamos sempre em cima da mesa
qual a opção que nos permite, no futuro, retirar mais e maior
rentabilidade, mais e maior benefícios. E, neste caso em concreto,
não acredito que a "riqueza" criada com um bom
aproveitamento dos pontos fortes e das oportunidades que a compra da
WCW gerou fosse suficientemente duradora. O monopólio e a ausência
de alternativa e/ou concorrência sufocou e abafa o negócio, quase o
matou e vai destruindo a cada ano que passa mais um bocado. Assim
sendo, por mais que eu gostasse de ter assistido à storyline das
storylines (que também acabou por não se verificar) e por mais que
quisesse ter visto uma série de Dream Matches (que também não se
tornaram realidade), não trocaria uma indústria competitiva, com
pelo menos uma promotora que fosse uma verdadeira alternativa à WWE,
por esses meus desejos.
E
vocês, quais pensam ter sido os principais pontos fortes e fracos
originados pelo fim da WCW?! De que forma pensam que essa situação
influênciou a modalidade e a indústria?!
Um Abraço!
Dias Ferreira
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