Boas Pessoal!
Sejam bem
vindos a mais um "Dias is That Damn Good", a coluna com
mais história na nossa CWO ;)
Se há coisa
que, enquanto fã de Pro Wrestling, procuro fazer é obter o máximo
de conhecimento e saber a respeito da indústria e seus praticantes.
Neste sentido, acreditem quando vos digo que perco horas e horas a
fio, não só a ver os shows semanais e ppvs das mais diversas
promotoras, mas também a visionar os dvds, os documentários e as
shoot-interviews, assim como a ouvir os mais variados podcasts e a
ler os mais diversos blogues. Desta forma, se há algo que posso
testemunhar de comum entre todos estes programas e que os liga, é o
facto de haver sempre, ou quase sempre, uma pergunta que se continua
a fazer, com mais frequência que as restantes, que é,
invariavelmente, a questão do encerramento da WCW e do responsável
ou responsáveis por esse acontecimento.
Normalmente,
respondendo a esta problemática, surgem sempre quatro grandes
nomes...o de Vince McMahon, o de Eric Bischoff, o de Vince Russo e o
da AOL. Ora, será, desta forma, na procura de reflectir sobre o
papel que cada um dos actores anteriormente mencionados desenvolveu e
que responsabilidade teve no encerramento da WCW que irei focar o
presente texto...tentanto, ainda, numa conclusão, apresentar e
nomear aquele que acredito ter sido o verdadeiro responsável pela
morte da companhia.
Não percam,
portanto, as próximas linhas...
- Vince McMahon
Nos finais dos anos 70 e no decorrer dos anos 80 Vince McMahon
comprou um sem número de guerras. Na tentativa de dotar a sua WWE de
uma exposição à escala global e de a tornar numa main stream da
indústria, o, ainda jovem, empresário sufocou e garroteou, quase
por completo, as várias promotoras que, à época, estavam
distribuídas pelos mais diversos territórios, sendo que cada uma
delas dominava aquele em que actuava. Consequentemente, Vince McMahon
foi adquirindo promotora a promotora e conquistando território a
território, até haver quase só a WWE e a Jim Crockett Promotions.
Ao que parecia, a guerra teria terminado por ali. Na mesma altura, a
WWE crescia a olhos vistos e a modalidade, acompanhando-a, entrava
num boom incrível, alcançando um mediatismo e um sem número de fãs
e seguidores até então nunca antes registado. Por seu turno, a Jim
Crockett Promotions, depois de 3 ou 4 anos ao melhor nível, tentou
dar um salto dimensional (fazer algo semelhante à WWE), no entanto,
devido a problemas de viabilidade financeira, esse salto falhou e a
companhia enfrentou problemas de tal forma graves, que teve de ser
vendida. E é aqui que se inicia ou se reínicia a guerra entre
promotoras, pois a Jim Crockett Promotions, que passaria a chamar-se
World Championship Wrestling (WCW), foi adquirida por Ted Turner o
dono da gigantesca cadeia de televisões TBS e CNN. Por má gestão,
os primeiros anos da WCW não foram de grande relevância e a
companhia nem alternativa conseguia ser relativamente à WWE,
contudo, quando em meados de 1993 a empresa tornou Eric Bischoff seu
Vice-Presidente, tudo iria mudar. A WCW iniciava uma guerra total com
a WWE, recrutando todos os grandes nomes da empresa de Vince McMahon
e apresentando um produto bastante mais inovador, refrescante e
apelativo. A WWE foi-se abaixo e a WCW estava no topo. Ora, essa
situação obrigou Vince McMahon a mudar, a preparar-se e a entrar,
mais uma vez, numa guerra...assim foi, a WWE lançou a Attitude Era
e, de uma maneira ou de outra, deu a volta por cima, superou a sua
rival e, num golpe de misericórdia, adquiriu-a a um preço
ridiculamente insignificante. Vince McMahon fez o que qualquer um, na
sua posição faria, defendeu-se. Se depois esteve bem ao adquirir a
sua única rival, acredito que a grande maioria, na sua posição,
tivesse feito o mesmo...mas a história e a actualidade vieram
comprovar que foi um erro, um erro para a qualidade do produto, um
erro para os wrestlers, um erro para a WWE e, acima de tudo, um erro
para o business e seus fãs.
- Eric Bischoff
Eric Bischoff foi um génio, um visionário a quem muito devemos e
podemos agradecer o facto da modalidade se ter tornado num fenómeno
à escala mundial e ter atingido máximos históricos no que aos
números, simpatizantes, seguidores e fãs diz respeito. Eric
revolucionou e transformou a indústria por completo, tornando-a num
business muito mais profissional, moderno, inovador e criativo e,
também, por isso, bastante mais interessante e apelativo. A sua
estratégia agressiva para com o mercado e a WWE, permitiu o
desenvolvimento de storylines, rivalidades e momentos inesquecíveis,
épicos e conseguiu transformar uma WCW, constantemente envolta de
problemas e adormecida, numa main stream completamente dominadora,
que arrasava a sua concorrência. No entanto, nem tudo são rosas e,
como é normal, Bischoff também cometeu inúmeros erros...desde
logo, na forma como elaborou os mais variados contratos das grandes
estrelas e talentos da empresa e pelo modo como não conseguiu
adaptar os produtos e conteúdos da WCW à resposta dada pela WWE com
a Attitude Era. Contudo, julgo que não pode ser responsabilizado por
uma série de acontecimento de fundamental importância no desfecho
do processo que levou ao encerramento da WCW. É preciso recordar que
a meio do ano de 1999, quando Eric Bischoff foi destituído da
vice-presidencia da companhia e demitido, a empresa ainda apresentava
números e lucros bastante elevados, encontrando-se, também, apesar
de tudo, muito próxima daqueles que eram apresentados pela WWE.
Quando, mais tarde, foi convidado a regressar à WCW e o aceitou,
agora numa posição meramente ligada ao processo criativo, teve de
partilhar as suas funções com Vince Russo, o que tinha tudo para
não dar certo, uma vez que ambos tinham uma visão e estratégia
para a modalidade completamente distinta. Na altura, a companhia já
se encontrava bastante desgastada e inundada de problemas, sendo
muito dificil ou praticamente impossível dar um contributo maior que
aquele que Bischoff deu. Num último acto, quando se sabia que a
detendora da WCW queria vender a companhia, Eric ainda procurou, com
parceiros, a aquisição da empresa e fê-lo saber junto dos seus
donos, tendo apresentado uma proposta com valores substancialemnte
superiores áqueles pelos quais a promotora viria a ser vendida.
Contudo, o facto da AOL Time Warner se recusar a manter os shows da
WCW na programação dos seus canais deitou por terra todo e qualquer
acordo com Eric Bischoff, o que se compreende, afinal de contas, qual
era o valor da WCW sem a possibilidade de transmitir os seus eventos
e shows num mercado televisivo de grande dimensão?! Podemos,
portanto, dizer que apesar dos erros cometidos, a responsabilidade de
Eric Bischoff no desmantelamento da WCW é bastante diminuta e que,
em última análise, ele foi o único que ainda a tentou lutar pela
sua subsistência, comprar e salvar.
- Vince Russo
Vince Russo foi o génio por detrás da Attitude Era e, por
consequência, pela revolução no produto da WWE e pela resposta
dada à ofensiva da WCW. Foi ele quem, em conjunto com Vince McMahon
e o seu colega Ed Ferrara, construíram os momentos mais memoráveis
da Attitude Era, bem como os personagens, gimmicks, angles,
segmentos, rivalidades e storylines que decorreram em grande parte da
mesma. O seu produto, fortemente marcado pelo crash tv, pelas
conotações sexuais e por uma maior abordagem de temas polémicos e
fraturantes da sociedade norte-americana, foi revolucionário e, por
isso, também ele tem uma forte responsabilidade no crescimento e
desenvolvimento da modalidade, no substancial aumento de qualidade do
business e, consequentemente, no período de maior fertilidade e
entusiamo vivido em redor da indústria. Vince Russo chegou à WCW a
meio de 1999, como o próprio reconhece, em completo burn out, para
susbstituir Eric Bischoff. Nesta altura, se por um lado as
expectativas eram tremendas em redor da sua contratação e o produto
ainda tinha capacidade e qualidade para dar a volta à expiral
negativa em que a WCW tinha mergulhado, por outro, não só o
desgaste que Russo e Ferrara traziam de longos anos na WWE como todos
os problemas no seio da companhia (originados, sobretudo, a partir da
fusão entre a AOL e a Time Warner), impediram que se tivesse
desenvolvido um trabalho de sucesso. Desta forma, Vince Russo
enfrentou diversos problemas no backstage, proporcionados
especialmente pelos maus hábitos de "politicagem" que se
tinham desenvolvido no interior da empresa, pela total ausência de
liderança e de uma voz de comando a quem assacar responsabilidades e
ordens, e acabou por se incompatibilizar com as duas maiores estrelas
da WCW, Hulk Hogan e Goldberg. Consequentemente, com o seu percurso
abalado, viria a ser afastado da companhia, não que, sem antes,
apesar de tudo, o ratings do WCW Nitro e do WCW Thunder tenham
crescido à volta de um ponto. Mais tarde, e como já foi referido,
voltaria com Eric Bischoff, mas nessa altura, já nada havia a fazer,
esperando-se, apenas, saber quem seria o futuro dono da WCW e que
novo rumo e futuro este lhe iria dar. Desta forma, conseguimos
compreender que, apesar de esgotado e de ter criado alguns problemas
de backstage evitáveis, Vince Russo nunca teve uma real oportunidade
de alterar o rumo dos acontecimentos e que, apesar de tudo, ainda
tentou...talvez se ao nível das suas estruturas as coisas se
tivessem acertado e quem dirigisse apostasse numa estratégia de
médio/longo prazo as coisas podiam ter dado certo, afinal de contas,
com Russo ao leme, em poucos mais de 3/4 meses, os ratings acabaram
por subir de forma algo considerável.
- A AOL
Para quem não sabe, a AOL entrou neste processo, quando se iniciou a
sua fusão com a Time Warner (detentora da WCW). Quando a unificação
das suas empresas ficou celada, Ted Turner (o grande adepto e
defensor do Pro Wrestling e, por consequência, da WCW) perdeu muito
do seu poder e relevância, tendo-se afastado gradualmente. No mesmo
sentido, os novos directores e executivos da AOL (agora AOL Time
Warner) começaram a delinear as suas primeiras estratégias e
planos, ficando desde a primeira hora claro que o wrestling não
seria nunca uma prioridade para a companhia e que esta estaria
interessada em desfazer-se dele. Ora, foi na sequência de todo este
processo que Eric Bischoff entrou numa série de desentendimentos e
discussões com os responsáveis da AOL, situação essa que lhe
custou o cargo que desempenhava e o próprio emprego. Da mesma forma,
foi a negligência da AOL para com a WCW que permitiu o clima de
anarquia que se vivia nos processos de tomada de decisão e que, por
sua vez, impossibilitaram Vince Russo de trilhar o caminho que tinha
traçado para o ressurgimento em força da WCW. Quando já era
público e sabido que a AOL iria vender a WCW, foram também os seus
administrações que impediram que as negociações com Eric Bischoff
e a Fusion chegassem a bom porto, negando-lhes a possibilidade de
transmitir nos seus canais o WCW Nitro e o WCW Thunder. Por último,
e tendo rejeitado uma proposta de Bischoff que rondava os 6,5 milhões
de dólares, foi a AOL quem decidiu vender a WCW a Vince McMahon por
um preço bastante abaixo da proposta de Bischoff e infinitamente
inferior ao real valor da companhia (à volta de 2/3 milhões de
dólares).
Conclusões
Na minha opinião, e pelo que pude explicar ao longo das linhas
anteriores, de uma forma ou de outra, os quatro nomes envolvidos
acabaram por ter influência no processo que levou ao fechar de
portas da WCW. Contudo, também podemos concluir que as
responsabilidades de Vince McMahon, Eric Bischoff e Vince Russo são
bastante diminutas e que, muito dificilmente, podem ser constituídos
como principais e verdadeiras causas e razão para o desfecho a que
se assistiu. Por outro lado, acredito que o papel e a postura que a
AOL adoptou, desde o início, para com a WCW, a negligência e desdem
com que a tratou e o facto de se querer desfazer por completo de
qualquer ligação à indústria do Pro Wrestling, assume-se como a
razão fundamental para a queda da main stream, a sua venda a Vince
McMahon e consequente encerramento.
E
vocês, quem julgam ter "assassinado" a WCW?!
Um Abraço!
Dias Ferreira
PS - Se puderem, deixem indicações e sugestões de temas que gostariam que eu abordasse.
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